Atletas poderão aumentar desempenho usando fezes de corredores de elite
No futuro, fezes de corredores de elite poderão ser usadas por atletas que desejam melhorar o desempenho esportivo. Essa foi a conclusão de um estudo publicado na notável revista Nature Medicine. De acordo o periódico, a “magia” parece depender da habilidade de certas bactérias em fazer o que as células de mamíferos não conseguem: converter um subproduto comum do metabolismo muscular em um composto para melhorar a performance.
Eles fazem bem mais que proteger contra doenças
Jonathan Scheiman, autor do estudo e então pesquisador da Universidade de Harvard, decidiu testar como os micróbios intestinais poderiam melhorar o bem-estar em indivíduos já saudáveis e, talvez, elevar os limites de desempenho humano.
Scheiman e seus colegas investigaram, antes de tudo, como o microbioma intestinal respondia a exercícios intensos. Corredores de longa distância competindo uma maratona anual se encaixam perfeitamente nesse quesito, não é mesmo?
Semanas antes da Maratona de Boston de 2015, os pesquisadores passaram quase 90 horas transportando amostras de fezes em gelo seco de 15 corredores de elite e de dez pessoas sedentárias.
O trabalho valeu a pena. Descobriu-se, na análise, que o evento esportivo estimulou um aumento no gênero bacteriano chamado Veillonella.
Em uma segunda análise, foram recrutados 87 ultramaratonistas e remadores de provas olímpicas, que apresentaram resultados semelhantes: os níveis de Veillonella aumentaram significativamente após o exercício de resistência.
Essa bactéria parece ser relativamente única entre as bactérias do intestino, pois usa lactato como única fonte de combustível de carbono. Em contrapartida, bombeia uma molécula chamada propionato – um composto que, entre outras coisas, regula a pressão sanguínea e auxilia no desempenho.
Experimento em ratos
Os pesquisadores injetaram em dois grupos de 16 camundongos uma linhagem de Veillonella isolada de uma das amostras fecais dos maratonistas e Lactobacillus, outro micróbio inócuo comumente encontrado no iogurte.
Cinco horas depois, a equipe fez com que os roedores subissem em um conjunto de esteiras em miniatura e corressem até ficarem exaustos demais para continuar. Em cerca de 16/17 minutos, os ratos que receberam Lactobacillus pularam fora. Os camundongos Veillonella, por outro lado, alcançaram 19 minutos, isto é, um aumento de 13% na resistência.
O percentual pode não parecer muito, porém, para um atleta, até os menores ganhos podem fazer uma enorme diferença.
Próximos passos
Os dados são intrigantes, porém, como várias das descobertas que se baseiam em dados comportamentais em ratos, essas podem ser difíceis de reproduzir em humanos. Fica, de qualquer forma, a certeza de que o microbioma intestinal é muito vasto e precisa ser exaustivamente estudado.