Papanicolau anal: o que você precisa saber sobre esse exame
A primeira coisa é que “papanicolau anal” é um “apelido” da citologia anal, que consiste na coleta de um raspado de células do ânus com uma escovinha (muito semelhante ao Papanicolau, daí o termo!).
Este exame é indicado para homens que praticam sexo com outros homens de forma receptiva, e para mulheres em duas situações: prática de sexo anal e diagnóstico de HPV.
É importante dizer que a citologia anal não é para o diagnóstico em si. Na verdade, o exame procura alterações citológicas (variações desenvolvimento e nas funções das células e dos componentes celulares) decorrentes do vírus. Caso haja alguma, é preciso realizar outros exames, seguidos ou não de biópsia, e o tratamento de acordo com o grau de lesão.
A coleta de material para o exame é semelhante ao preventivo ginecológico, com algumas variações para as quais o médico precisa ser treinado. Alguns especialistas recomendam que o exame seja realizado anualmente em pessoas HIV positivo e a cada 2 – 3 anos para aquelas que são HIV negativo, mas não existe um consenso sobre essa periodicidade. É preciso que cada caso seja avaliado de forma particular.
E por falar nesse tema, há um ano eu publiquei, juntamente de outros grandes doutores, um estudo que incluiu a citologia anal como um dos métodos de rastreamento de câncer anal em um grupo de comportamento de alto risco: homens vivendo com HIV / AIDS.
O câncer anal
Na população em geral, o câncer anal é relativamente raro, respondendo por 0,43% de todas as neoplasias e apenas 2% dos tumores malignos do trato digestivo. No entanto, sua incidência aumentou cerca de 50% nos últimos 25 anos!
Não existem dados específicos aqui no Brasil sobre a estimativa da incidência de câncer anal na nossa população. Mas em 2017, foram registrados 460 óbitos por esse câncer no país, uma taxa cerca de seis vezes superior à de 1990 (74 óbitos).
Portanto, temos observado um aumento no número de casos. E como a doença ainda é um tanto quanto desconhecida, aqui vai um breve guia sobre ela.
O câncer anal são tumores que ocorrem no canal e bordas externas do ânus. Tumores no canal do ânus são mais frequentes entre as mulheres, enquanto os que surgem nas bordas do ânus são mais comuns em homens.
O grupo mais predisposto a ter esse tipo de câncer são pessoas com mais de 50 anos, fumantes, com história de fístula anal, infectados pelo HPV e com feridas no ânus. Alterações de hábitos intestinais e presença de sangue nas fezes também são razões para consultar o médico. O sintoma mais comum é o sangramento anal vivo durante a evacuação, associado à dor na região do ânus. Outros sinais de alerta são coceira, ardor, secreções incomuns, feridas na região anal e incontinência fecal (impossibilidade para controlar a saída das fezes).
O tratamento pode ser clínico e/ou cirúrgico. O mais utilizado é a combinação de quimioterapia e radioterapia. Em estágios iniciais, o tratamento cirúrgico normalmente é eficiente para remover a parte da região afetada (lesão). A prevenção é baseada principalmente em manter uma dieta balanceada, com boa ingestão de frutas, legumes e verduras e pobre em gordura. Além, claro, da prática de atividade física.
O perigo das IST’s
Algumas infecções, como as causadas pelo papilomavírus humano (HPV) e pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), são apontadas como responsáveis pelo aumento da incidência de tumores anais.
Outras infecções sexualmente transmissíveis como condilomatose, gonorreia, herpes genital e clamídia, assim como a prática do sexo anal, o tabagismo e a fístula anal crônica (doença que consiste numa conexão anormal entre a superfície do canal anal e o tecido em volta do ânus com secreção purulenta) também são relacionadas ao desenvolvimento desse tipo de câncer.
Por isso, utilize o preservativo (camisinha) em todas as relações sexuais e diga não ao medo e ao preconceito em relação ao tratamento médico. Uma das principais conclusões que apresentamos no nosso estudo foi que a falta de educação em saúde e informações sobre o assunto impacta negativamente as estratégias de prevenção.
Para se ter uma ideia, a maioria dos nossos participantes nunca havia consultado um coloproctologista, o que pode indicar dificuldade de acesso a nossa especialidade e também um grande preconceito, especialmente em relação ao exame proctológico.
Porém, em um questionário de aceitabilidade que aplicamos, 62,5% deles relataram não ter sentido desconforto durante a realização do exame. Além disso, todos afirmaram que fariam o exame proctológico novamente se fosse necessário.
Isso prova como ainda falta informação e sobra preconceito, algo que precisamos mudar com urgência!