Pós-operatório de hemorroida: o que você não pode fazer?
Quem sofre com a doença hemorroidária sabe o quanto ela pode comprometer a qualidade de vida. O paciente pode sentir dores intensas, sangramentos e prurido (coceira), entre outros sintomas, dificultando atividades simples como sentar, praticar esportes e até trabalhar.
À princípio, o tratamento para essa doença é clínico com a prescrição de medicamentos tópicos (pomadas) que podem ser combinados com alguma droga oral. Além disso, para que não hajam novos traumas, indico alguns cuidados como, por exemplo, abolir o uso do papel higiênico e fazer banhos de assento com água morna. Porém, quando o paciente não responde bem ao tratamento anterior ou tem um agravamento da doença hemorroidária, indicamos o tratamento cirúrgico, a hemorroidectomia.
O tratamento Cirúrgico (hemorroidectomia)
A hemorroidectomia é a retirada cirúrgica do mamilo hemorroidário, aquele vaso inflamado que fica para fora do ânus. Apesar de ser um dos procedimentos mais eficientes para a cura da doença hemorroidária, costuma ser acompanhado de um pós-operatório bastante doloroso.
Quem passa por esse procedimento sabe que enfrentará uma recuperação lenta, variando entre 60 a 90 dias, podendo se estender a 120 dias, em casos mais complexos. Durante esse tempo, podem ocorrer outros sintomas como dor moderada ou intensa, principalmente, após a evacuação. Sangramentos e prurido anal (coceira) também são relatados, além de complicações como fissura, fístula, plicoma e tenesmo. Tudo isso faz com que várias pessoas deixem a doença se agravar, com medo do pós-operatório.
Mas será que todos pacientes vão sofrer tanto assim? Não, nem sempre! Como falei, cada pessoa é única. Tenho depoimentos de pacientes que não sentiram nada, passaram super bem pelo tratamento e outros que tiveram algum grau de desconforto.
Pensando em melhorar o tratamento dos meus pacientes, desenvolvi, durante o meu mestrado, um protocolo terapêutico que tem ajudado muita gente a se recuperar mais rápido, minimizando esse sintomas e possíveis complicações pós-cirúrgicas.
Medicamentos que ajudam no combate aos sintomas e complicações
Conduzi um ensaio clínico, duplo-cego e randomizado, com 68 pacientes portadores de hemorróidas graus III e IV, submetidos à hemorroidectomia. Separei essas pessoas em quatro grupos que receberam tratamentos distintos: o primeiro foi tratado com duplo-placebo; o segundo com placebo e metronidazol; o terceiro placebo e flavonoide; e o quarto metronidazol e flavonoide.
Todos eles passaram pela hemorroidectomia, utilizando a técnica Milligan-Morgan, sob sedação e anestesia local.
Ao final do estudo, consegui concluir que os pacientes do grupo quatro, que foram tratatados simultâneamente com metronidazol e flavonoide, nos 15 dias que sucederam o procedimento, tiveram menor grau de sangramento, menos dor e melhorar considerável no prurido anal.
Claro que esse protocolo deve ser bem indicado e não utilizado aleatoriamente. Mesmo assim, tenho orgulho desse trabalho pois, realmente, tem proporcionado qualidade pós-operatória superior aos meus pacientes. Além disso, a pesquisa ainda me permitiu ganhar o Prêmio Pitanga Santos, pelo qual sou muito grata*.
Cuidados que você deve adotar em casa
Além de uma boa técnica cirúrgica e dos medicamentos utilizados, para o sucesso completo do tratamento, a participação do paciente é indispensável. E, por isso, alguns cuidados no dia a dia são imprescindíveis.
Higiene redobrada
O ânus é repleto de bactérias e, por isso, a higienização do local deve ser constante. Mantenha a região anal sempre limpa e seca. Se tiver com secreção, lave com água morna e sabão neutro, sem esfregar demais. Troque a gaze do curativo periodicamente, conforme orientação médica. Pode ser usado, ainda, absorvente feminino para captar a secreção e evitar que o ânus fique molhado.
Cuidado ao evacuar
Lembre-se de que você acabou de sair de uma cirurgia e que deve evitar qualquer tipo de esforço. Sente-se no vaso somente se sentir vontade de evacuar e use um banquinho para apoiar os pés, minimizando a pressão sobre o ânus. É normal, nos primeiros, dias sentir vontade de evacuar mais vezes.
Evite o papel higiênico
Como já mencionado, não use papel higiênico. Além de não limpar adequadamente, é preciso várias passadas para poder retirar os resíduos de fezes, o que pode machucar a região que já está sensível. Então, opte por lavar ânus com água, de preferência morna, e sabão neutro. Na sequência, seque com um pano de algodão limpo. Em último caso, quando não puder lavar, utilize lenços umedecidos para limpar e depois encoste o papel levemente apenas para retirar o excesso de umidade.
Cuide da sua alimentação
Algumas pessoas acreditam que devem tomar sopas ou caldos após uma cirurgia anal. Porém, com algumas exceções prescritas pelo médico, isso não é o mais indicado. No geral, o paciente pode comer normalmente. Aposte em uma alimentação rica em fibras para estimular a evacuação e melhorar a consistência das fezes, justamente para não machucar quando passar pela ferida. Dê preferência aos alimentos integrais, frutas e legumes com casca, folhas e beba muita água.
Evite a automedicação
Não use nenhum medicamento que não foi prescrito pelo seu médico. Alguns remédios podem retardar a cicatrização. É importante lembrar que cada paciente receberá um tratamento diferente que levará em conta as características da doença, do procedimento e a recuperação do organismo.
Sexo anal
Durante o pós-operatório o sexo anal não é indicado. O médico vai liberar o paciente para voltar a rotina, inclusive atividade sexual, assim que estiver concluída a fase de cicatrização.
Compareça a todas as consultas de retorno
O médico precisa acompanhar o paciente depois do procedimento justamente para ver como está sendo a cicatrização e dar algumas orientações sobre os cuidados. Evite faltar ou remarcar esses encontros, pois eles são a sua oportunidade de tirar dúvidas e de receber orientações para uma recuperação muito melhor.
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Até a próxima semana!
*Prêmio Pitanga Santos
O Prêmio Pitanga Santos é concedido, anualmente, pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia. O objetivo é reconhecer os trabalhos desenvolvidos pelos profissionais da área que apresentarem algum estudo inédito. Em 2016 tive a honra de ser premiada com o minha tese de mestrado, intitulada “Efeito sinérgico do uso do flavonoide e do metronidazol no controle da dor pós-hemorroidectomia: estudo clínico duplo cego e randomizado”. Tenho muito orgulho desse trabalho que também foi publicado pela Revista Brasileira de Coloproctologia.
Como médica tento sempre fazer o melhor pelo meu paciente e receber esse reconhecimento sobre um protocolo criado por mim, foi maravilhoso. Agradeço aos meu orientador, o professor e doutor, Antônio Lacerda Filho, e minha família pelo apoio.