Prep e o aumento das infecções sexualmente transmissíveis
A Profilaxia Pré-Exposição de risco à infecção pelo HIV, mais conhecida como PrEP, é uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais em um único comprimido. É usada de modo preventivo, por pessoas que não têm a doença, antes do ato sexual, para impedir que o HIV se estabeleça e se espalhe pelo corpo. Quando esse medicamento é tomado da maneira correta, com boa adesão, é bastante eficaz contra o vírus HIV.
Quem pode usar a PrEP?
A PrEP é prescrita para pessoas em situação de vulnerabilidade e que tenham práticas de maior risco para infecção pelo HIV. Exemplos:
- Travestis e transexuais;
- Gays e homens que fazem sexo com homens;
- Trabalhadores do sexo;
- Casais sorodiferentes (um tem HIV e o outro não) que têm relações sexuais sem usar camisinha ou que tenham Infecções Sexualmente transmissíveis (IST).
PrEP deve estar associada a preservativo?
A PrEP não previne ISTs como sífilis, gonorreia e clamídia. Assim, a recomendação é que as pessoas não deixem de usar a camisinha.
Pesquisa
Para avaliar o perfil de adesão à PrEP, as mudanças no comportamento sexual entre as pessoas que fazem uso desse medicamento e a ocorrência de ISTs depois do início dos comprimidos, o infectologista Ricardo Vasconcelos, da Faculdade de Medicina da USP, realizou sua tese de doutorado. Saiba mais sobre esse estudo:
– foram acompanhados 450 participantes homens gays/bissexuais e mulheres trans/travestis nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. O perfil incluiu critérios de alto risco de infecção por HIV.
– Além de receber a PrEP gratuitamente, eles foram acompanhados com consultas trimestrais para rastreamento de ISTs.
Os resultados mostraram:
– 74% dos participantes tinham evidência laboratorial de alguma IST antes de iniciar o uso da PrEP, o que comprova sua alta vulnerabilidade a essas infecções.
– Durante os dois primeiros anos de acompanhamento, foi identificada a ocorrência de outros: 36 casos de gonorreia, 45 de clamídia, 70 de sífilis e 17 de herpes genital.
– 78% dos participantes estavam tomando a PrEP de forma adequada.
– 32% dos incluídos perceberam alteração no seu comportamento sexual após início da PrEP.
– Entre os participantes que disseram ter desinibição no comportamento sexual após o início da PrEP, não houve um número maior de casos de ISTs incidentes.
– Entre aqueles que já tinham tido alguma IST prévia e que afirmaram ser trabalhadores do sexo ou usuários de drogas recreativas, como cocaína, GHB, ketamina e ecstasy/MDMA houve aumento na incidência de ISTs.
Conclusão
O estudo mostrou que pessoas que buscam a PrEP já eram vulneráveis às ISTs antes de iniciar a medicação. Apenas 32% delas acham que essa vulnerabilidade aumentou com a PrEP.
O pesquisador considera necessário o acompanhamento das pessoas que usam PrEP para diagnosticá-las e tratá-las sempre que pegarem uma IST. Também precisam de atenção aqueles que já tiveram uma IST na vida, os trabalhadores do sexo e quem faz uso de drogas recreativas. Maior frequência na testagem e métodos adicionais de prevenção contra ISTs são importantes para esse perfil mais vulnerável.